Pão ou pães... é questão de opiniães!


domingo, 11 de março de 2018

INCLUSÃO SOCIAL DE DEFICIENTES AUDITIVOS: UM DESAFIO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Little boy with hearing aid, closeup
A luta pela inclusão social de portadores de deficiência auditiva é um assunto que se faz presente e que tem ganhado espaço nas discussões da sociedade brasileira. Apesar de existir um progresso, se comparado com alguns anos atrás, ainda há muitos avanços a serem feitos, a fim de visar a igualdade.
Ao longo da civilização os surdos foram excluídos e segregados, alvos de preconceito da sociedade. Na antiguidade, por exemplo, a concepção que se tinha nas sociedades gregas e romanas, bem como para a igreja católica, era de que o surdo não era considerado humano, respectivamente por não usar a fala (resultado do pensamento), e não ser a imagem e semelhança de deus. Com o passar dos anos, graças às pesquisas e estudos realizados, foi-se quebrando esse conceito errôneo a respeito dos deficientes auditivos, e os incluindo, aos poucos, na sociedade. 
 A inserção do indivíduo na vida social, de acordo com o teórico Émile Durkheim, é permeada por dois grupos. O grupo primário, o qual engloba familiares e amigos, meio em que é ensinado as primeiras regras sociais; e o grupo secundário, formado pelas instituições públicas ou privadas, como por exemplo a escola, ambiente que promove o conhecimento científico, além da coletividade da criança/adolescente. A questão é que os principais órgãos incumbidos de adentrar essa minoria na sociedade, não têm preparo para tal façanha.
 Atualmente, o que ajuda a promover, em certa medida a inserção e comunicação dos surdos dentro da comunidade é a língua brasileira de sinais (LIBRAS), que é a língua oficial dos surdos-mudos brasileiros. Apesar do Brasil ser considerado um país bilíngue, e a segunda língua oficial ser LIBRAS, ainda não há uma expansão desse conhecimento, para que famílias do surdo, por exemplo, consigam o amparar. Embora o direito de ensino, acesso à comunicação, informação e educação desde a educação infantil até a superior à pessoas surdas seja prevista na Lei no 10.436, de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, capítulo IV, Art. 14, não houve e não há condições para que fosse, nem para que venha a ser posta em prática.
Prova disso é a falta de intérpretes nos municípios brasileiros. A cidade de Castanhal, Pará, de acordo com o MEC, contava em 2007 com cerca 25 professores formados em libras, distribuídos em 84 escolas, atendendo mais de 26 mil alunos. A falta de profissionais na área acarreta na incapacidade dos órgãos públicos de auxiliar  os deficientes auditivos, os quais não recebem tratamento e condições igualitárias, sendo excluídos, muitas vezes de eventos e acontecimentos públicos. Ademais, a escassez de intérpretes remete à dificuldade de oportunizar a educação de pessoas com problemas auditivos. Atualmente, no Brasil há somente em torno de 120 surdos formados a nível superior (somado os de graduação, mestrado e doutorado). 
Em contrapartida com os movimentos e demasiados projetos de inclusão social algumas pessoas mantém o pensamento retrógrado que defende a segregação do surdo, por exemplo, uma educação separada, para não prejudicar o desenvolvimento do restante da turma. O indivíduo com surdez somente apresenta dificuldade de comunicação, o que não significa falta de capacidade para aprendizado. Além de que, a interação das crianças com o diferente evita que seja criado um preconceito, e instrui desde pequenos as pessoas a saberem a lidar com uma outra realidade senão a que já estão habituados.   
Em vista de todos os fatos expostos, é notório que, conquanto muitos obstáculos já tenham sido vencidos, e que houve sim, um progresso com o passar dos anos, é inaceitável assumir que não existam barreiras que ainda precisem ser quebradas para se chegar numa inclusão totalitária dos deficientes auditivos. As oportunidades para essa minoria ainda são de difícil acesso, seja na área do lazer ou do trabalho. É substancial a inserção do surdo na sociedade propiciada pela família, instituições e órgãos públicos.   



Eduarda Castelo, acadêmica do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.

O PRATO DA IGNORÂNCIA ESTÁ SERVIDO

ICONS REPRESENTING PROBLEM OF WEALTH DISTRIBUTION INEQALITY CAUSING SMALL NUMBER OF WEALTHY POPULATION ON ONE SIDE AND HUNGER ON THE OTHER

O desperdício de alimentos tem características causais versadas e suas consequências são visíveis, principalmente em um mundo contemporâneo dividido em classes e com contrastes desiguais. Há um enorme debate acerca do desperdício de alimentos e como se trata de um problema global, sua complexidade sugere uma reflexão abrangente da problemática citada. Tudo que envolve o homem e as relações que este tem com o mundo e os demais indivíduos que nele estão, merece espaço para um debate. 
Segundo um artigo da Gazeta do Povo publicado no ano de 2014, é preocupante o desperdício de alimentos. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente, em contraste com esse número assombroso temos 842 milhões de pessoas passando fome, países industrializados ou em pleno desenvolvimento desperdiçam em média 222 milhões de toneladas, essa quantia sustentaria por um ano a África subsaariana.  
 O desperdício tem como causa: o comportamento errôneo do consumidor em comprar em excesso e a falta de organização e planejamento na venda e na armazenagem dos produtos, a (logística). O homem está servindo para a posteridade um prato de ignorância, um prato que não tem comida porque fora desperdiçada antes de ser servida. 
Josué de Castro, influente geógrafo, já dizia que a humanidade é dividida em dois grupos: o grupo dos que não comem e o grupo dos que não dormem com medo dos que não comem. Reinterpretando sua colocação e inserindo no contexto do desperdício é possível afirmar que quando o homem desperdiça, ele também divide a humanidade em dois grupos: o grupo dos que comem com fartura, servem o prato da ignorância e o grupo que não tendo o que comer, passa fome, eles até comem, mas é difícil de engolir a ignorância que o outro grupo serve.
Um grupo desperdiça e o outro passa fome e para, Milton Santos, outro importante geógrafo brasileiro, ela está diretamente ligada com o modelo econômico e Castro corrobora essa afirmação em seu livro geografia da fome, defendendo a ideia de que a fome é o resultado da má distribuição das riquezas e dos produtos.  
É fato que algumas pessoas não consideram que existe desperdício, entretanto estas mesmas estão inseridas em contextos socioeconômicos elevados, a inutilização dos alimentos se dá por pessoas que tem a garantia de sempre terem alimentos na mesa. Segundo Platão, o desejo se dá pela falta que se tem de algo, quando esta falta é suprida, o desejo some. Àqueles que tem o que comer e esbanjam sabendo que terão ainda o que comer no dia seguinte, estes não sentem mais desejo, pois a falta já fora provida, diferentemente daqueles que estão desejosos pelo pão de cada dia.  
O desperdício dos alimentos não pode ser algo tolerável e deve ser combatido. O desperdício, como já visto, está aliado a muitos fatores. Portanto não é só uma questão de consciência, mas também de planejamento e reformulação da estrutura política e econômica. Somente assim o prato da ignorância em forma de desperdício deixará de ser o prato principal do mundo global.



Emanuel Augusto, acadêmico do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.

DEIXAR UMA CRIANÇA NASCER NÃO É O SUFICIENTE.

WASHINGTON JUNE 27:  Pro-life and pro-choice activists await the Supreme Courtâ??s ruling on abortion access in front of the Supreme Court in Washington, DC on June 27, 2016


O aborto é um assunto muito discutido e causa muita polêmica no Brasil. Um dos maiores motivos para isso, é o fato de não ser legalizado no país. O assunto já foi muito repercutido em diversos meios de comunicação como jornais, televisões e revistas. No entanto as opiniões variam pois existem pessoas com religiões, formações, valores e princípios diferentes. O aborto deveria ser legalizado devido ao alto índice de mortes maternas, pela falta de condições, recursos financeiros e amparos psicológicos que alguns países não conseguem oferecer para a criança.
Mesmo com tantas divergências de pontos de vistas, países como Uruguai, Guiana, Porto Rico e Cuba, o aborto é legalizado sem justificativa, até a 12ª semana de gestação. Na França, na qual também é legalizado, a taxa de mortalidade, segundo o site Carta Capital, é de menos de uma morte por ano, e ainda, no mesmo site, o Brasil aparece com uma morte a cada dois dias. Portanto, a proibição do aborto não vem se mostrando eficaz quando se fala em diminuir mortes maternas.
Além da morte materna, existem muitos casos de crianças abandonadas pelos pais logo após o seu nascimento, sem condições adequadas de alimentação, educação, saúde e apoio emocional.  Em muitos casos, depois que crescem, essas crianças viram adultos revoltados e se autodestroem entrando no mundo das drogas ou descontam na sociedade aumentando o índice de violência nas cidades. Além disso, crianças adotadas, dos mais de 2.600 instituições de abrigo, segundo o site do Senado, mesmo depois de acolhidas por uma família, passam o resto das suas vidas com a sensação de abandono portanto precisam de tratamentos psicológicos.
Segundo Guillermo Cartasso, presidente da Fundação Latina, o aborto é um tema institucional de direitos humanos e desde o momento da fecundação o feto é um ser distinto da mãe e está protegido pela constituição. Entretanto, segundo estudos da faculdade Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, até a vigésima quarta semana o feto não sente dor e não desenvolveu nenhum tipo de consciência, nesse contexto o feto não sofre durante o procedimento e não pode ser considerado um cidadão formado ainda. 
Por isso, o aborto devia ser legalizado. Assim, o índice de mulheres que morrem em clínicas clandestinas diminuiria proporcionalmente com casos de crianças que sofrem na sociedade. Ter um filho é saber e ter maturidade suficiente para dar amor, afeto, carinho e uma vida humana digna. Pais que não possuem preparo psicológico, financeiro ou simplesmente não querem ter um filho deviam ser apoiados na decisão de não ter.



Claudia Delfe, acadêmica do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.

A MULHER E A DISPARIDADE DE SALÁRIO


A mulher deve e pode ter o direito de receber o mesmo salário que os homens. Pois, além de estar inserida numa sociedade patriarcal na qual ainda é vista como "sexo frágil" e com isso ela recebe menos que os homens. No entanto, exercem as mesmas funções e permanecem na luta pela igualdade salarial.
Inserida em uma sociedade que ainda possui padrões antigos, em que tem-se a visão que o homem é o responsável pelo sustento familiar, a mulher precisa cada vez mais lutar pela igualdade salarial. Ela pode mostrar a sociedade que tem força e capacidade não só de sustentar a família, mas também de estar a frente de empresas e assim, ser respeitada por todos.
Essa disparidade de salário entre homens e mulheres pode ser vista por meio de diversas pesquisas. Uma delas é a pesquisa do IBGE (2005-2015) na qual, afirma que as mulheres ganham cerca de 68% a menos que os homens, mesmo exercendo trabalhos semelhantes, inclusive com carga horária mais elevada.
Na medida em que as mulheres ganham menos que os homens a pesquisa da Catho divulgada em 2017, também mostra a injustiça com a participação feminina empresarial. Cerca de 13 mil profissionais responderam a pesquisa e os índices mostraram que as empresas pagam menos para as mulheres em todos os cargos de atuação.
Em contraste com as lutas para uma igualdade salarial e esses números alarmantes, é imprescindível citar o deputado federal Jair Bolsonaro (PP – RJ) que em uma entrevista para o jornal gaúcho Zero Hora, afirmou que as mulheres devem receber menos que os homens porque engravidam. Segundo ele, a mulher causa perda de produtividade ao empresário, visto que, quando ela engravida trabalha somente cinco meses no ano.
Porém, a lei Lei Nº 9.029/95 afirma que a gestação, mesmo no início, não deve ser vista como uma negativa admissão. Com isso, o discurso do deputado federal torna-se irrelevante, uma vez que, o poderio maior está na lei. Negar uma vaga de emprego a uma mulher, justificando que ela pode engravidar é ir contra a própria constituição. Isso faz, com que a mulher seja impedida de se desenvolver no mercado de trabalho e exigir os mesmos direitos salariais que os homens. E mais, é ir contra a própria natureza biológica dela.
Logo, a mulher além de estar inserida em uma sociedade patriarcal, receber salários menores que os homens, e ainda ser vista como um atrapalho para o crescimento empresarial quando o assunto é maternidade ela ainda é intimidada. Continuar buscando cada vez mais a igualdade salarial, faz com que as mulheres aumentem sua participação na economia. Elas exercem as mesmas funções que os homens, e embora “trabalhem cinco meses” quando grávidas, não significa que não sejam aptas para exercer a função e garantir a igualdade salarial.

Marieli - acadêmica do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.

domingo, 1 de outubro de 2017

COTAS RACIAIS: UM PRIVILÉGIO PARA OS NEGROS?



Muito se discute sobre as cotas raciais. Em um país como o Brasil, essa medida de ação afirmativa não seria diferente. Ela consternou diversos setores, como o socioeconômico do país, pois a classe burguesa branca não aceitara com facilidade a inserção dos negros nas mesmas salas de aula. Sendo assim, causaria fortes discussões e manifestações em torno do tema. Tendo em vista as disparidades sociais presentes no país, as cotas raciais devem sim, ser vistas como medida para início da diminuição da desigualdade racial.
Desde o forjado fim da escravidão até os dias atuais, a inserção do negro na sociedade vem sendo tratada com rejeição e preconceito. O Plano de Juventude Viva foi apresentado pela ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes. Esse projeto reúne ações para oportunidades de inclusão dos jovens negros de 15 a 29 anos e coleta dados que revelam um percentual no qual 67,9% dos jovens mortos no país são negros. É um índice altíssimo para o Brasil, comprovando ainda que a população é racista e violenta.
Esta dificuldade de inserção havia de refletir na educação. Um gráfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as taxas de matrículas no ensino superior em 2013 mostrou que, apesar do desenvolvimento positivo, ainda há grande diferença racial no número de matriculados. Contudo, brancos ocupam ainda quase 70% das vagas no ensino superior. É por isso que o sistema de cotas vem lutando desde 2000, quando foram discutidas as primeiras ideias de implantação desse sistema no país. Ou seja, apesar do crescimento quanto ao número de matrículas para cotistas raciais, os dados apresentam-se ainda muito desemparelhados, isto é, ainda há poucos negros matriculados nas universidades. 
A Universidade de Brasília (UNB) foi a primeira universidade federal do país a adotar a política de cotas depois de analisar que a instituição admitia em sua maioria apenas o pensamento de um segmento étnico, dos brancos. E a população de Brasília também era, em sua maioria, constituída por negros. Segundo a universidade, mais de 4 mil alunos entraram na instituição por meio das cotas raciais. E enfatizam ainda que, sem essas políticas, muitas dessas pessoas não conseguiriam chegar ao ensino superior.
No entanto, em 2006, um grupo de 120 intelectuais assinou um manifesto contra a reserva de vagas pelo sistema de cotas. Nesse documento estão os nomes do poeta Ferreira Gullar e do cantor Caetano Veloso, que afirmavam que a chegada do negro à universidade não eliminaria o racismo, e poderia até causar intolerância, produzindo efeitos contrários. Todavia, mesmo os brancos ainda sendo maioria em muitas universidades, o IBGE divulgou um percentual. Em 2004, apenas 16% dos negros tinham chegado ao ensino superior, e em 2014 esse número saltou para quase 46%. Vale ressaltar que foi graças as cotas que a chegada dos negros a universidade pode ser vista como fator igualitário.
Embora todas as dificuldades dos negros de inserção social e do surgimento de políticas para correção disso, as cotas mostraram-se eficazes, possibilitando que milhares de negros chagassem ao ensino superior. Contudo, as análises sociais, como as feitas pela UNB, são de extrema importância, por demonstrarem dados específicos de uma realidade social. Mesmo a passos lentos, o Brasil está em construção para erradicar o racismo, e a adoção das cotas já revela-se um fator igualitário na garantia de oportunidades. Assegurar ao negro o direito de chegar ao ensino superior não é privilegiar uma raça, é analisar historicamente os dados e entender que as prerrogativas para a comunidade negra sempre se deram em menor escala.

Matheus Aniecevski, acadêmico do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.